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Eleições em Curitiba: O acerto do PSOL e o fracasso da Frente Ampla. No segundo turno, chamamos voto nulo.

Atualizado: há 7 dias

Por Revolução Socialista regional PR


Reprodução: Charge de Benett para o Plural Jornal Curitiba.

O PSOL acerta e apresenta uma alternativa política para a classe trabalhadora

O acerto do primeiro turno das eleições municipais de 2024 foi a decisão do PSOL em lançar uma candidatura própria, diferente da possibilidade defendida de apoiar a velha política, representada por candidatos históricos mas com programas personalistas e atrasados. Andrea Caldas e Letícia Faria conduziram uma campanha sólida e abrangente, abordando os principais temas da cidade com um programa construído coletivamente. Embora a soma de votos para a prefeitura tenha sido abaixo das expectativas, a decisão de não se aliar ao barco furado de Roberto Requião posicionou o partido como uma força respeitada, com o positivo resultado da eleição merecida da primeira vereadora do PSOL em Curitiba, a Professora Angela.

Assim, o PSOL se fortalece à esquerda, apresentando-se como uma possibilidade em meio a uma das eleições mais reacionárias da história de Curitiba. Somente a partir de um programa radical e uma linha política bem definida, as chances de crescimento comprovaram-se significativamente maiores. Em contrapartida, enquanto o PSOL ganhou uma cadeira na Câmara de Vereadores, o PDT perdeu uma. O Partido Socialismo e Liberdade precisa continuar a construção e ampliação de sua base para se tornar uma força de esquerda ainda mais influente em Curitiba, especialmente considerando que PT e PDT não têm se apresentado como alternativas.

Os revolucionários e o PSOL têm a responsabilidade de reivindicar com ainda mais força a construção do socialismo como resposta à barbárie, além de destacar a luta em solidariedade à Palestina, especialmente no contexto regional em que o sionismo também exerce forte influência no Paraná. Diante do avanço eleitoral da extrema direita, que radicaliza o debate e oferece falsas soluções simplistas para a classe trabalhadora, é fundamental apresentar o socialismo como uma alternativa real e viável, que precisa se disseminar e conquistar cada vez mais as mentes e corações, o que só virá por meio de muito trabalho militante.

Primeira Candidatura da Revolução Socialista

Entendendo a tarefa dos revolucionários nas eleições burguesas, apresentamos a candidatura a vereador do camarada Rafael Pereira, um militante trabalhador, negro e gay, que não abaixou bandeiras socialistas importantíssimas como: Fim da Escala 6 por 1, Tarifa Zero Popular com a estatização do transporte público, Luta Antimanicomial, Campanha Fora Lixão da Essencis, Legalização do Aborto e da Maconha. Estas apostas corajosas abriram as portas para uma performance positiva de diálogo nas ruas, convertidos em bons contatos e em 433 votos, uma votação expressiva considerando que esta foi a primeira candidatura da Revolução Socialista em Curitiba.



Esses votos são frutos também do trabalho de base realizado pela corrente para além do período eleitoral, nas ruas, bairros, universidades e na área de saúde, especialmente na Psicologia Comunitária. Com uma política radical, obtivemos o apoio dos camaradas do Coletivo Alicerce (PSOL), do PCB, PCBR, Marcha da Maconha, além de centros acadêmicos da UTFPR e outras organizações que se identificaram com as bandeiras de luta. Curitiba teve a experiência de uma candidatura socialista disposta a debater temas considerados espinhosos e indiscutíveis por parte dos reformistas. Rafael se torna uma figura promissora para a construção política futura, enquanto a Revolução Socialista se fortalece através de muito do trabalho acerca destas pautas históricas que unem a classe trabalhadora.

O Fracasso da Frente Ampla nas eleições municipais

Na terra da Lava Jato, a eleição teve um caráter tumultuado, com diversas candidaturas disputando qual delas era a mais reacionária. Pelos reformistas, observamos uma tentativa frustrada de frente ampla, com nomes como Luciano Ducci (PSB) e seu vice Goura (PDT), enquanto o PSOL, PSTU e PCO apresentaram opções mais radicais e classistas. No PSOL, o amplo debate possibilitou o lançamento da única candidatura de duas mulheres, Andrea e Letícia, que apresentaram políticas de esquerda e um programa abrangente.

O fracasso da frente ampla serve como um forte indicativo político, especialmente considerando a estratégia que os reformistas devem adotar para as próximas eleições presidenciais no Brasil. O apoio liderado pelo do PT dentro da Federação Brasil da Esperança (PT, PV e PCdoB) ao candidato de centro-direita Luciano Ducci gerou polêmica desde o início. Mesmo com Goura como vice, a escolha foi inaceitável para muitos dentro do Partido dos Trabalhadores. Essa decisão resultou de uma negociação realizada a portas fechadas no PT, que não envolveu em uma democracia real sua base interna, o que descredibiliza a linha discursiva "em defesa da democracia" e reforça a constatação de sua completa degeneração eleitoreira. Mesmo com todo esse desgaste para defender uma frente ampla, sequer houve a capacidade de convencer as massas de que uma governabilidade seria possível, resultando na derrota nas urnas. Nas ruas, era comum ouvir pessoas afirmarem que votariam no Goura, sem sequer saber que Ducci era cabeça de chapa, evidenciando a falta de conexão real com o eleitorado.

Para recordar, Ducci votou pelo impeachment de Dilma Rousseff, foi vice-prefeito de Beto Richa (PSDB) e apoiou o Marco Temporal, projeto que ameaça os territórios indígenas. Além dos erros já esperados do PT dos dias atuais, outro ponto negativo foi a associação de Goura a Ducci, dado que Goura havia sido candidato à prefeitura na eleição anterior, terminando em segundo lugar. É no mínimo contraditório que um ativista ambiental se torne vice de um político que votou contra os povos indígenas e originários na Câmara Federal.

Essa ala reformista é dominada por cálculos eleitorais, feitos por figuras dos partidos que estão distantes do trabalho de base. Mais uma vez, a frente ampla fracassa e nem chega ao segundo turno em uma eleição em que todos os candidatos da direita disputavam o mesmo setor do eleitorado conservador. O fracasso dos “progressistas”, com medo da radicalização e falta de um programa consistente, abre espaço para o crescimento da extrema-direita porque a população não vê na política institucional uma possibilidade material de mudança. Ducci-Goura não conseguiram se apresentar como alternativas para a classe trabalhadora, que acabou votando em peso nas candidaturas de extrema direita, Cristina Graeml (PMB) e Eduardo Pimentel (PSD). Essas candidaturas escancararam o papel das igrejas como bases eleitorais da extrema-direita, que nas eleições se transformaram em verdadeiros palanques eleitorais.

Um recado importante para o PT e sua estratégia de frente ampla foi a eleição de Vanda de Assis, que se destacou como uma voz dissidente em relação à aliança com Ducci, conseguindo uma boa votação como vereadora e se posicionando à esquerda de seu partido. Destaque também para a reeleição de Giorgia Prates, mulher lésbica, negra e do axé, dando continuidade a um mandato de muito trabalho de base nas pautas territoriais, raciais, feministas e diversas outras que fortalecem as lutas da cidade de Curitiba.

Isso reforça ainda mais a urgência do trabalho de base nos bairros, periferias, escolas e em todos os espaços que precisam ser referência para a construção de uma consciência  de classe emancipadora e crítica. É fundamental que a população entenda a importância da atuação política em seu cotidiano, desenvolvendo seu próprio senso de autonomia, para não cair nas armadilhas de projetos reacionários disfarçados de antissistema.

No segundo turno, a classe trabalhadora empobrecida não tem candidatura

Em Curitiba, o segundo turno será entre duas candidaturas da extrema-direita: um herdeiro burguês, Eduardo Pimentel; e uma negacionista, Cristina Graeml, que apadrinhada pelo reacionário Pablo Marçal em São Paulo, surge como “alternativa antissistema” nessa eleição.

Eduardo Pimentel tenta agora se postular como alguém preparado e moderado, apostando no bom mocismo para tentar a simpatia do povo curitibano, sendo na verdade, uma grande armadilha vinda de um candidato apoiado por Ratinho Jr. e de Jair Bolsonaro. Pimentel é representante direto da elite burguesa curitibana e paranaense, basta olhar para seus sobrenomes e comprovar: Pimentel Slaviero¹. Enquanto foi vice-prefeito usou da máquina do dinheiro público para favorecer sua eleição, sendo denunciado por um grupo do PSOL (incluindo a Revolução Socialista) pelo acúmulo de cargo no governo Estadual enquanto compunha a vice-prefeitura de Curitiba.



Já Graeml utiliza o discurso de ser a "primeira mulher" a ser eleita na cidade, explorando o fato de ser do Partido da Mulher Brasileira (PMB), mesmo sem representatividade ou política para mulheres. Isso é uma falácia para quem entende como a política institucional burguesa realmente funciona, revelando que a extrema-direita aprendeu com o fracasso de Bolsonaro que o voto feminino é decisivo nas eleições, mas sem ir além disso. Cristina se aproveita do identitarismo e tenta acessar mulheres, mães e trabalhadoras para que busquem representatividade e uma nova alternativa de voto. Sua candidatura, no entanto, é altamente contraditória, uma vez que se apresenta como defensora das causas feministas e de seus direitos, mas perpetua uma política que mantém a ordem e os homens no poder, fortalecendo e dando continuidade à cultura conservadora, patriarcal e machista.

Além disso, Cristina fala de sua formação e carreira em jornalismo para afirmar seu compromisso com a verdade, mas tem usado suas redes sociais para disseminar fake news² - táticas já bem conhecidas, muito utilizadas inclusive pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, antes e durante seu mandato. Ganhando ou não, seu discurso é insustentável. Não subestimamos seu eleitorado, pelo contrário, entendemos que o apoio de sua base traz à tona para militantes revolucionáries a necessidade urgente de alcançar mais mulheres e construir, junto a elas, mudanças estruturais a partir das bases, não com personagens performáticos como o que Cristina representa.

Sendo assim, o cenário eleitoral para o segundo turno na cidade de Curitiba não oferece nenhuma alternativa para explorades e oprimides: a melhor forma de expressar nosso programa e política é o Voto Nulo!

Revolucionáries enxergam as eleições burguesas como tática e não como estratégia fundamental, o que nos leva a concluir que um mandato é um meio fortificador e extensor da luta, não um fim na construção revolucionária. Ao contrário das alas reformistas, negamos as diversas formas de conciliação com a burguesia, sempre justificadas com o argumento do "mal menor" e “governabilidade”.

O cenário nacional com Lula-Alckmin já demonstra que, no espaço limitado da democracia burguesa, essa representatividade é restrita e entreguista. O período eleitoral serve para aprofundar o debate político e, após o balanço das eleições, compreender os desafios e os algozes do próximo período.


 

[1] A família Slaviero tem raízes na imigração italiana e, como muitas outras famílias tradicionais do Paraná, sua história está ligada às questões agrárias e ao poder econômico e político regional. Essas conexões históricas frequentemente envolvem formas de exclusão social e exploração de trabalhadores, refletindo práticas do passado que ainda têm repercussões hoje. Fontes: Familiar de vice-prefeito de Curitiba na lista suja do trabalho escravo. <https://revistaforum.com.br/brasil/2017/3/28/familiar-de-vice-prefeito-de-curitiba-na-lista-suja-do-trabalho-escravo-19654.html>. FAMÍLIA SLAVIERO: UMA HISTÓRIA DE GRANDES CONQUISTAS. <https://revistas.ufpr.br/nep/article/viewFile/55090/33452>. Familiar de vice-prefeito de Curitiba está na lista suja do trabalho escravo. <https://www.brasildefato.com.br/2017/03/28/familiar-de-vice-prefeito-de-curitiba-esta-na-lista-suja-do-trabalho-escravo/>.

[2] Postagem na rede social de Cristina Graeml <https://www.instagram.com/p/DAdcjsrvVPh/>. Acesso em 10/10/2024.



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