Por Verónica O’Kelly
2024 deixa algumas lições importantes sobre o momento em que se encontra a crise capitalista mundial, a sua expressão no Brasil, as nossas forças e possibilidades de lutar por um mundo mais justo, igualitário, sem opressão e sem violência, um mundo socialista.
A Palestina e todo Oriente Médio sob o fogo do sionismo e do imperialismo genocida
Oriente Médio, com foco em Gaza, está sendo atacado pela fúria sionista e imperialista. A crise capitalista tem aberto uma crise de hegemonia imperialista, os EUA por exemplo, a grande potência mundial, tem dificuldades para manter a ordem e os conflitos se abrem dia após dia.
Netanyahu, no comando do enclave colonial, racista e genocida Estado de Israel está decidido a acabar com a Faixa de Gaza para avançar na ocupação e roubo de terras palestinas. Pratica um holocausto contra o heroico povo palestino, que resiste enquanto os governos árabes, chinês, russo e todos os supostos “anti-imperialistas” se mantém quietos, o que os transformam em cúmplices do sionismo genocida. Além de bombardear a Palestina, Israel ataca o Líbano, onde a resistência do povo libanês conseguiu deter, por enquanto, o avanço sionista.
Na Síria, comemoramos a queda da sangrenta ditadura do clã al-Assad, embora não temos expectativas nas direções que comandam a rebelião e se dispõem a restaurar a ordem capitalista no país. Direções essas, fundamentalistas islâmicas, que são apoiadas e financiadas por distintos setores imperialistas, inclusive dos EUA. Declaramos todo nosso apoio ao povo sírio, contra a ditadura de Bashar al-Assad e qualquer interferência imperialista. Pela autodeterminação do povo, que seja convocada uma Assembleia Constituinte a fim de reorganizar o país em uma direção de libertação nacional e social, em solidariedade à causa palestina e ao Estado laico para a coexistência pacífica entre povos e religiões.
Por que e como a extrema direita cresce?
O fenômeno de governos de extrema direita em alguns dos principais países do mundo é um fato que ascende as luzes de alerta. Mas isso não significa tirar conclusões equivocadas baseadas no ceticismo e a capitulação na política de conciliação de classes. É preciso identificar o porquê da emergência do fenômeno e o como detê-lo.
Alguns exageram o fenômeno e são céticos da força que a classe trabalhadora possui para lutar na defesa de suas conquistas atacadas pela extrema direita. Dessa forma argumentam que a saída é apostar no “mal menor” e abandonar toda independência de classe em nome da “unidade” com qualquer um para defender a “democracia”.
Essa política está fazendo com que a extrema direita se sinta à vontade para continuar crescendo e se colocando como alternativa política diante as massas. Sinteticamente, as razões disso são:
Os governos ditos progressistas frustram as expectativas das massas e isso fortalece a extrema direita que se coloca como alternativa política;
Esses governos, como o de Lula-Alckmin, na conjuntura de crise capitalista atual, quase não têm margens para conceder conquistas ao povo, pelo contrário, aplicam privatizações, políticas de austeridade e ajuste, retirando direitos, para responder as demandas da burguesia;
A “democracia” que defendem e promovem, é a mesma que prende, reprime e mata o povo pobre e trabalhador cotidianamente. Para grande parte da população, a democracia é um discurso vazio.
Os representantes da extrema direita atual têm o objetivo de liquidar os direitos sociais, trabalhistas e políticos conquistados em décadas anteriores, para isso se propõem instaurar regimes mais repressivos;
A ausência de alternativa política anticapitalista revolucionária alimenta o possibilismo das Frentes Amplas e, consequentemente, a evolução do processo de crescimento da extrema direita.
Nós, longe de qualquer visão cética, confiamos plenamente na força da classe trabalhadora para barrar a extrema direita. Mas essa força, sem uma ferramenta política revolucionária, se dilui. Hoje mais do que nunca, para deter a barbárie capitalista, é necessário reagrupar as forças revolucionárias e construir um projeto político com expressão de massas.
Eleições municipais no Brasil: a inutilidade das Frentes Amplas
No Brasil tivemos eleições municipais. O resultado foi um crescimento da direita e extrema direita sem surpresas, como expressado nos parágrafos anteriores, essa é uma consequência do cenário atual. Nesse sentido, vale destacar que a principal conclusão é que a política de Frentes Amplas é absolutamente inútil para deter a extrema direita, e as direções políticas que seguem esse caminho estão destinadas ao fracasso e a perspectiva é que, o futuro destes setores seja a perda de base social e a adaptação à ordem burguesa que, como já dito, está em decadência e a possibilidade de sua sobrevivência está atada à perspectiva de liquidar conquistas sociais e avançar em regimes menos democráticos e mais repressivos.
O PSOL, seguindo a equivocada política reformista da direção majoritária, vai pelo caminho da liquidação do projeto anticapitalista das origens, se transformando num partido da ordem que adere à conciliação de classes. Foi assim que a performance eleitoral do partido foi ruim, perdendo o governo da cidade de Belém e ficando muito longe de ganhar a prefeitura de São Paulo, onde concentrou todos os esforços militantes e financeiros.
Mas as lutas não pararam
Para o leitor desprevenido, bombardeado pela propaganda dos setores possibilistas, 2024 pode ter sido um ano marcado pela conjuntura eleitoral e poucas lutas. Vejamos como isso está longe de ser verdade.
Começamos o ano com uma Greve Geral contra Milei na Argentina, seguida de mobilizações que barraram o DNU e a Lei Ônibus. Ainda no início do ano, tivemos greves do funcionalismo público em distintas cidades e estados brasileiros por melhoras salariais e condições de trabalho. Em abril se iniciou a histórica greve do funcionalismo público da educação superior federal, mobilizando a base da categoria no país inteiro e paralisando campus depois de décadas. No mês seguinte, o povo paranaense foi para as ruas contra a privatização das escolas. Também teve as ruas do país pintadas de verde pela maciça demonstração de forças das mulheres e pessoas que gestam contra o PL 1904, o PL do estupro. Ainda nesse mês, no Quênia, o povo protagonizou uma rebelião que derrotou o plano de ajuste do governo Ruto e o FMI, na Bolívia a mobilização popular deteve uma nova tentativa de golpe e na Caxemira ocupada pelo Paquistão a rebelião popular derrotou o governo e conquistaram as reivindicações sociais exigidas pela mobilização. Poucas semanas depois, a faísca da mobilização se acende em Bangladesh, com a juventude à frente, derrotando o governo da déspota Sheikh Hasina. Em nosso país servidoras e servidores do INSS protagonizaram uma forte greve de 114 dias, uma das mais longas de toda a história dos trabalhadores previdenciários e também dos correios que paralisou a categoria nacionalmente. Teve paralizações e greves na indústria, com destaque a categoria química no Vale de Paraíba – SP que fez a empresa israelense ICL recuar na tentativa de retirada de direitos e uma heroica greve na multinacional americana Johnson & Johnson. Quase no final de ano, a força da juventude trabalhadora se levantou contra a escala 6x1. Enquanto isso, as lutas pela saúde e pela desmanicomialização, por moradia justa, contra o racismo e qualquer violência de gênero ou contra a diversidade sexual, pela justiça ambiental, dentre outras mobilizações importantes que demonstram que lutas não faltam.
Falta alternativa política de esquerda socialista sem vacilos
Podemos continuar listando mais processos de lutas, mas o que me parece importante ressaltar é que, ainda com muita mobilização, a ausência de alternativa política é o grande problema que precisamos atacar.
O PSOL está no caminho do fracassado projeto da Frente Ampla. Isso nos leva a fazer um debate urgente com a militância que procurou o partido como uma ferramenta independente e socialista. Como também com as tendências internas que são críticas da direção majoritária e defendem o PSOL das origens. Não dá para continuar como está, os próximos meses serão fundamentais para postular uma esquerda que não se rende aos “cantos de sereia” da conciliação de classes.
Existem algumas boas iniciativas, por exemplo, no interior de SP, um grupo de militantes divulgaram uma carta com fortes críticas e propostas para retomar a democracia e a política com independência de classe. Existem reuniões, debates e várias atividades onde as tendências se encontram, mas infelizmente tudo isso é insuficiente já que até aqui não temos conseguido mais do que atuar juntos em algum que outro fato ou evento. É preciso um debate fraterno e sincero que discuta a possibilidade real de atuar unitariamente na construção dessa alternativa política de esquerda socialista.
2025 nos espera com mais lutas e desafios. Nós da Revolução Socialista estamos convencidas e convencidos que a única forma de superar a ausência de alternativa política é construir um partido revolucionário e internacionalista que se disponha a fortalecer um processo de reagrupamento de revolucionárias e revolucionários. Te convidamos a fazer parte desse projeto.
Excelente visão sobre o ano e os eventos que ocorreram! 2024 foi um ano de muita luta e nós estivemos presentes em diversos desses momentos. Saudações a um 2025 movimentado que faça todes notarem as correntes que nos prendem.
Até a revolução, camaradas!
Obrigada pelo apoio ao Movimento Vozes do Interior e Litoral!
https://vozesdointeriorpsol.wordpress.com/