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Nossa revolução não cabe nas urnas: a descrença da classe com as eleições burguesas

Atualizado: há 5 dias

Por Revolução Socialista - Regional Paraná

As eleições burguesas funcionam como uma ferramenta de manutenção do poder da classe dominante, a burguesia, que dita as regras do jogo, restringindo o acesso da classe trabalhadora aos meios de produção e à riqueza. Canalizando as demandas populares para dentro de uma estrutura que preserva os privilégios de uma minoria, vendendo uma falsa sensação de democracia a partir do voto. Nessa realidade, toda a política é elaborada a portas fechadas, imposta de cima para baixo pela burguesia. A insatisfação popular é nítida e vemos um boicote crescente ao regime democrático burguês, com as pessoas se opondo a essa fraude eleitoral que se apresenta como democrática.

Nesse cenário, na medida que a crise avança de forma irreversível, o Não Voto se torna uma manifestação de ruptura não apenas com as instituições, mas também com um voto de cabresto que, na prática, não transforma a vida das pessoas. A abstenção eleitoral reflete um cansaço e uma desilusão com promessas vazias, indicando uma necessidade urgente de novas alternativas que verdadeiramente representem os interesses e as aspirações da população.

Os primeiros governos do PT, no início dos anos 2000, trouxeram ao Brasil o mínimo necessário para que grande parte da população pudesse viver com dignidade e, consequentemente, promovendo maior acesso à educação, saúde e saneamento básico. No entanto, essas conquistas foram alcançadas à custa de conciliações políticas que, após a crise internacional de 2008 e durante o governo Lula, mostraram seu verdadeiro custo.

O impeachment de Dilma, em 2016, revelou a fragilidade da democracia burguesa no Brasil, evidenciando a facilidade para o desmantelamento das conquistas sociais dos governos quando a classe trabalhadora se encontra desmobilizada. Essa foi a política de Dilma, Lula e o PT nos 12 anos de governo. Após isso e na ausência de direções revolucionárias capazes de mobilizar as massas contra a burguesia, fez com que o governo de Michel Temer alcançasse objetivos concretos: atacou muitos direitos trabalhistas, educação pública e abriu ainda mais as portas do país para uma burguesia internacional que lucra diariamente com a exploração dos brasileiros. Se concretizou a Reforma Trabalhista, que resultou no avanço do desmonte da CLT. Hoje, enfrentamos a ampliação do regime de trabalho 6x1, a precarização de empregos em plataformas como Uber e iFood, a privatização de serviços públicos e a transformação da educação em mercadoria com a reforma do Novo Ensino Médio. 

A eleição de Bolsonaro, em 2018, foi o agravamento dessa crise nas instituições da democracia burguesa, onde o discurso de um ex-militar de baixa patente, aposentado, com suas soluções imaginárias e anti institucionais, clamando por uma ditadura, ressoou mais forte do que qualquer discurso moderado que defendesse as instituições já deslegitimadas. Bolsonaro concluiu seu governo com baixa aprovação, resultado de uma gestão desastrosa durante a pandemia, mesmo assim não se reelegeu por uma margem pequena de votos.

Em contrapartida, Lula emergiu vitorioso nas urnas, em 2022, representando uma conquista da classe trabalhadora, que canalizou sua luta contra Bolsonaro pelo voto. No entanto, o governo Lula-Alckmin, agora ainda mais alinhado à direita, defende a democracia burguesa como um ideal superior, apostando no judiciário para pautar questões diversas, o que distancia cada vez mais a participação popular. Enquanto isso, a extrema direita consolidou sua presença no legislativo e avança com um discurso anti-institucional, utilizando de maneira ainda mais eficaz as ferramentas da democracia burguesa para desmantelar as conquistas sociais que foram fruto da mobilização.

Essa crise se manifestou nas últimas eleições regionais, onde as táticas da extrema direita evidenciaram as limitações da conciliação de classes e da Frente Ampla, que, mais uma vez, se mostrou ineficaz e beneficiou os interesses da burguesia. A realidade regional se assemelha ao coronelismo em diversas localidades, com a concentração de poder das mesmas famílias sendo uma característica marcante. Um exemplo claro disso é o governo de Ratinho Jr no Paraná, que apoiou Eduardo Pimentel, ex-vice do prefeito que cumpriu dois mandatos. É notável a influência de elites locais sobre a população, com decisões centralizadas a nível estadual e impactando diretamente a política nacional. Em suposta oposição a essa política, diversas cidades viram surgir figuras da extrema direita organizadas que se apresentaram como uma alternativa à “velha política”, como foi Pablo Marçal em SP e Cristina Graeml em Curitiba. Utilizam um discurso que promete romper com o sistema, mas, na realidade, disfarçam a ideologia dominante. Os votos nessas figuras não refletem necessariamente um reacionarismo por parte dos eleitores, acreditar nisso e deixar de disputar essas consciências é um erro.

O recorde em abstenções

No Brasil, a disputa entre figuras da extrema direita mobilizou a população em um movimento de não-voto, evidenciando uma resistência em se submeter à escolha do "menos pior". Em Curitiba essa postura contrastou com a estratégia dos reformistas, que, no segundo turno, incentivaram o voto em Eduardo Pimentel, um bolsonarista declarado. Pimentel, apoiado pelo governador Ratinho Jr., se insere em uma tendência que remete a Ricardo Nunes e Tarcísio em São Paulo, comprometidos com uma das agendas de privatização mais agressivas do Estado, acompanhadas por um forte aparato repressivo e desmontes históricos nas áreas de educação, saúde e outros.

Em Curitiba a disputa entre o Não Voto (abstenções, brancos e nulos) e Eduardo Pimentel foi bastante acirrada. O Não Voto somou 502.439, enquanto Pimentel recebeu 531.029, resultando em uma diferença de apenas 28.590 votos a favor do candidato eleito. Por outro lado, Cristina Graeml obteve 112.185 votos. Em termos percentuais, Pimentel teve 37,29%, o Não Voto alcançou 35,29% e Cristina ficou com 27,41%.

Em São Paulo, o número de votos brancos, nulos e abstenções somou 3,6 milhões, superando os votos do candidato eleito Ricardo Nunes, que obteve 3,4 milhões. Isso significa que o "não voto" ficou em primeiro lugar, com 212 mil votos a mais que Nunes. Em comparação com Guilherme Boulos, o "não voto" teve uma diferença de 1,2 milhão a mais. Em termos percentuais, o resultado foi: 38% para "não voto", 36% para Nunes e 24% para Boulos. 

Abstenção no 2º turno (34 milhões votantes aptos 2024)

Abstenção no 1º turno (155 milhões votantes aptos 2024)

2024: 29,26%

2024: 21,7%

2020: 29,53% (pandemia)

2020: 23,2% (pandemia)

2016: 21,6 %

2016: 17,6%

2012: 19,1%

2012: 16,4%

2008: 18,1%

2008: 14,5%

2004: 17,3%

2004: 14,2%

2000: 16,2%

 

Os números revelam como a classe trabalhadora já começa a perder interesse nessa forma de falsa democracia. Ano após ano, muitos não aparecem às urnas; quando o fazem, frequentemente votam nulo ou em branco. O aumento das abstenções reflete a insatisfação da população, que percebe que, apenas votar a cada dois anos não é participar democraticamente. Ao mesmo tempo, muitos não encontram uma referência política confiável e acabam se deixando levar pelas promessas da extrema direita. Os partidos reformistas, por sua vez, aliam-se à direita, enganando suas bases, que estão cada vez menores e menos populares.

Sem uma mobilização organizada da classe trabalhadora, a insatisfação social pode ser facilmente manipulada, abrindo caminho para o avanço de forças autoritárias. Em vez de ser um instrumento de emancipação, a democracia burguesa torna-se uma estrutura que, em tempos de crise, legitima retrocessos e preserva privilégios. Quando nos criticam por supostamente estarmos “distantes das necessidades imediatas da classe trabalhadora” por puxarmos uma campanha no Voto Nulo e defendermos a luta objetiva, ignoram que representamos uma pequena vanguarda política. Se toda essa movimentação estivesse sob nossa direção, a utilizaríamos para impulsionar uma revolução socialista. Nosso método e organização nos permitem captar o momento e a forma como a classe expressa sua insatisfação e estar presentes no cotidiano onde podemos agir, com plena consciência de nossa estrutura e independência política. Não somos nós que estamos na direção do Estado e ignoramos o que a classe trabalhadora realmente reivindica.

A necessidade de construir uma alternativa

Ouvimos e estamos com a classe, radicalizamos o debate e nos alinhamos com o que ela nos comunica de fato. Participamos taticamente das eleições burguesas com candidaturas que defendem um programa socialista, não apenas para pedir votos, mas para incentivar que a classe trabalhe na construção de um enfrentamento ao sistema que a oprime. O movimento de não votar é uma reação orgânica, que, ano após ano, revela o resultado falho das táticas reformistas de Frente Ampla que, ao prometerem uma social-democracia ilusória, arrastam suas bases para a barbárie. A direita e o centrão podem continuar a vencer eleições, agarrando-se ao que lhes resta e sacrificando alguns de seus membros para preservar sua estrutura. No entanto, o crescente nível de abstenção indica que, em todo o Brasil, os novos governos estão começando com uma forte oposição. Isso pode resultar em administrações ainda mais autoritárias, utilizando mais da força do Estado contra a classe trabalhadora.

É papel dos socialistas reconhecer esse fenômeno e apresentar uma alternativa à falsa democracia, desgastando o sistema atual e apontando para uma solução socialista — antes que nos vejamos frente a frente com o fascismo. Nossa crítica à direção do PT não é subjetiva ou emocional; ela se baseia em uma análise prática e objetiva. O Socialismo que propomos não é uma ideia utópica ou distante, mas sim um projeto concreto, sustentado por um método que já demonstrou eficácia ao derrubar o Estado burguês e instaurar um Estado proletário. Ainda assim, é essencial convencer os diversos setores sobre as tarefas imediatas e a urgência de se comprometer em uma construção que leve a um avanço real.

Essa crítica se estende também a partidos como o PDT, o PCdoB e outros, que ocupam diversas instâncias de poder e fazem a política burguesa. Em várias ocasiões, esses partidos utilizam a imagem de figuras históricas ou mobilizam suas juventudes para entoar palavras que reivindicam o socialismo, tornando ainda mais urgente entender qual política está sendo implementada pela Frente Ampla. Não devemos nos deixar iludir por isso quando, de fato, temos a oportunidade de avançar em um programa socialista.

As eleições municipais, marcadas por um recorde de abstenções, nos aproxima da classe trabalhadora e oferece uma oportunidade de discutir o fim do sistema capitalista. É, além de tudo, uma ação irresponsável ignorar os erros do passado, que nos mostram claramente a necessidade de buscar alternativas que verdadeiramente atendam às demandas populares, em vez de defender uma política que não traz resultados concretos. Trabalhamos para convencer sobre um projeto político voltado para a construção do Socialismo, entendendo que é a única alternativa. Sabemos que esse objetivo não se concretizará sozinho, por isso, neste momento é importante analisar os erros objetivos e engajar com aqueles que buscam entender a conjuntura atual e lutar. Para isso, é fundamental reagrupar a vanguarda revolucionária, dialogar e estar presente nos espaços onde a classe trabalhadora se organiza, seja nos locais de trabalho, estudo ou moradia. 

Devemos nos envolver ativamente, apresentando o projeto socialista como a base para a construção do partido revolucionário, conquistando a confiança das pessoas e integrando-as às nossas fileiras. Os dados mostram uma oportunidade histórica para disputar a consciência das massas, pois, se não o fizermos, a extrema direita o fará. Inserir-nos nesse debate é a chance de fortalecer a possibilidade revolucionária no Brasil e desenvolver uma estratégia à barbárie.


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